Nayara Ittner, acadêmica da 8ª fase do Curso de Moda da Católica de Santa Catarina em Jaraguá do Sul, e Bruno G. Klein, ex-aluno graduado em Design pela Instituição, criaram uma solução para reaproveitar retalhos que sobram das indústrias têxteis. A intenção foi reduzir o descarte de resíduos que contaminam o meio ambiente e usá-los para construir algo útil no dia a dia das pessoas.
Preocupados com as sobras de tecidos que vão parar nos lixões e contaminam o solo, eles desenvolveram um novo material: o aglomerado de tecido picado e resina de mamona, que reaproveita os resíduos e, ao mesmo tempo, pode ser aplicado na fabricação de móveis. Ao ser prensada com tecidos que seriam jogados fora, a matéria prima transforma-se em um conjunto de placas sólidas e rígidas, com uma resistência comparável à madeira. Por causa de sua resistência e dureza, as placas podem ser usadas, basicamente, na composição de mobiliário feito, também, a partir da madeira.
Tudo começou quando Nayara e Bruno fizeram uma pesquisa sobre a quantidade de retalhos descartados em uma fábrica de estofados de Jaraguá do Sul e se surpreenderam ao descobrir que a empresa deixava de utilizar, por mês, cerca de 700 quilos de pano. Todo esse tecido era doado a grupos de artesãos da cidade, que reaproveitavam o material em suas peças de artesanato.
Com base nesse cenário, eles acharam que seria importante haver uma outra alternativa para as fábricas que não têm como descartar esse grande volume de retalhos que sobram na produção. Depois de muita pesquisa na internet, testes em laboratório, incontáveis horas de estudo e várias tentativas que deram errado, eles decidiram misturar o aglomerado com resina de mamona, doado por uma empresa de resinas e vernizes de São Paulo, com os retalhos cedidos pela fábrica de estofados. Assim, eles chegaram, finalmente ao material com o resultado desejado.
O aglomerado de resina de mamona (também conhecido como aglomerante ou PU) é uma matéria ecologicamente correta, utilizada para criar produtos com finalidades específicas em diversos segmentos de mercado. Porém, essa foi a primeira vez que ela foi utilizada para desenvolver um material completamente novo, que pode ser útil na produção de vários produtos diferentes.
“Desde o início, nossa ideia sempre foi criar um novo material, e não mais um produto, pois não queríamos restringir a proposta e as proporções que ela poderia tomar. Assim, desenvolvemos algo realmente inovador, para ser usado em diferentes projetos de uma fábrica de móveis”, comenta Bruno.
Experiência compartilhada em evento nacional
Para garantir que o material teria a resistência adequada e fosse bonito esteticamente, o próximo passo depois da experiência em laboratório foi construir o protótipo de uma banqueta, com estrutura em madeira de demolição e tampo feito a partir do aglomerado. Nayara e Bruno explicam que a cor e a textura do PU dependem do tipo de tecido utilizado, pois é a composição do pano que define o visual.
A experiência deu tão certo que a dupla foi convidada a compartilhar a experiência no Colóquio de Moda – maior evento científico de moda no Brasil, realizado em Bauru (SP), entre os dias 11 e 15 deste mês.
O estudo, iniciado no segundo semestre de 2016 como projeto de iniciação científica, resultou no artigo “Desenvolvimento de matéria prima composta utilizando retalhos têxteis”, apresentado por Nayara no congresso. O trabalho foi realizado por cerca de um ano e orientado pelo coordenador dos Cursos de Design e Design de Moda, Nelson Martins de Almeida Netto.
A ideia deve ser apresentada nos próximos dias à empresa de estofados que participou da pesquisa, que avaliará se a implantação do processo é viável. Eles explicam que o custo final de fabricação do material só poderá ser confirmado após a definição das dimensões do produto em que essa matéria será aplicada e das ferramentas que serão utilizadas para fabricá-la.
Para os dois jovens, todo o tempo investido na pesquisa valeu a pena. Além de terem criado uma solução que deve contribuir com a sustentabilidade do planeta, ainda puderam compartilhar a ideia com profissionais gabaritados das áreas de design e moda de todo o país durante o colóquio.
“Começamos o projeto para ter mais experiência acadêmica com pesquisas e, no final, já pensamos em novos estudos e aplicações para o material que criamos. Foi maravilhoso ter a oportunidade de unir nossa criatividade e força de vontade para desenvolver algo que, certamente, fará a diferença para o meio ambiente”, comenta Nayara.