Quando se reflete sobre a palavra “acessibilidade”, é comum as pessoas se lembrarem da falta de rampas, de espaços adaptados e de calçadas adequadas para os deficientes físicos. Mas você já parou para pensar na dificuldade que eles têm para realizar outras tarefas simples do dia a dia, como escrever ou simplesmente sentar em uma mesa com altura suficiente para caber a cadeira de rodas?

Para ajudar a diminuir um pouco as dificuldades que os cadeirantes enfrentam nesse tipo de situação, cinco alunos da 10ª fase do Curso de Engenharia de Produção da Católica de Santa Catarina em Jaraguá do Sul estão desenvolvendo um conceito de projeto de carteiras escolares adaptadas para cadeirantes. A ideia surgiu no início do semestre, na disciplina de Projetos Industriais, lecionada pelo professor Marcio Moacir Pereira, também coordenador da graduação.

Para chegarem na proposta de conceito da carteira escolar, os alunos Tamires Camargo, Fabiana Maestri, Fabio A. Packer, Nathan Magno e Adriana Hemkemeier estão fazendo várias pesquisas, como: análise do mercado, avaliação de empresas existentes e que tipos de produtos são ofertados e análise de regulamentações e de patentes. O grupo também está realizando um levantamento com usuários para saber quais as principais necessidades a serem atendidas.

O trabalho tem como objetivo desenvolver o conceito do projeto de um produto e da fábrica para sua produção. Para descobrir o que o mobiliário precisa oferecer para garantir conforto e praticidade na hora de estudar, a equipe conversou com alguns cadeirantes. As informações coletadas são formatadas utilizando ferramentas de desenvolvimento de produtos, para gerar conceitos diferentes.

Um deles prevê que a peça seja feita de madeira plástica (material composto de fibra de madeira, serragem e termoplástico) – que é leve e reciclável -, com regulagem de altura e nivelamento para piso irregular. Eles também pensaram em uma carteira móvel, com um tampo que pudesse ser encaixado na cadeira de rodas e levado para onde o cadeirante quiser. “Assim, se ele tivesse que mudar de sala de aula ou quisesse comer em um local sem mesas adaptadas, poderia levar a carteira junto”, comenta Tamires.

Entre as sugestões já registradas estão a de colocar um apoio para os braços, instalar uma peça para nivelar o móvel em relação ao piso e adaptar um espaço lateral destinado aos materiais escolares, para evitar que caiam no chão, entre outras.

“Percebemos que existem vários níveis diferentes de deficiência que precisam ser atendidos. Alguns cadeirantes conseguem mexer os braços, outros não; alguns conseguem mexer o tronco, outros não. Para quem não tem deficiência, é normal se abaixar para ajuntar um livro que caiu no chão. Mas, para quem não consegue mexer o tronco, é uma tarefa muito difícil de se fazer”, avalia Fábio.

No trabalho, a equipe precisará justificar porque o conceito escolhido é melhor, apresentar dados sobre os equipamentos e os materiais que seriam utilizados na construção, além do custo de fabricação e o nível de preço para o consumidor final. A entrega da proposta está prevista para dezembro deste ano.

Uma das usuárias ouvidas pelo grupo é a estudante do 8º semestre do Curso de Direito, Maria Antônia de Jesus Ferreira. Há cinco anos, ela sofreu um acidente de carro e ficou tetraplégica. Desde então, sente na pele as dificuldades que as pessoas com mobilidade reduzida enfrentam para realizar tarefas comuns do cotidiano, como comer fora de casa, pegar ônibus ou entrar em um local público.

Maria diz que a sociedade está mais preocupada com a acessibilidade de forma geral, mas que as ações para melhorar a vida dos deficientes físicos são, muitas vezes, restritas a algumas entidades de apoio especializadas. Por isso, considera que a iniciativa dos acadêmicos e da universidade em elaborar um conceito de projeto para beneficiar quem tem mobilidade reduzida é extremamente importante.

“A população com deficiência física no Brasil cresce a cada dia e esse público não pode ser ignorado. É importante que sejam apresentadas ideias como essa, que podem ajudar as pessoas que precisam a se inserirem no mercado de trabalho, nas escolas e em outros ambientes para, assim, terem uma vida normal”, destaca.

Propostas estão disponíveis para a comunidade

O professor da disciplina de Projetos Industriais do Curso de Engenharia de Produção da Católica SC em Jaraguá do Sul, Marcio Moacir Pereira, explica que a matéria desafia os alunos das fases finais a criarem conceitos de produtos que atendam necessidades sociais ou ambientais, com base em conhecimentos aprendidos durante a graduação.

“O objetivo é tirar os alunos de sua zona de conforto e fazê-los trabalhar e pensar em situações que geralmente não vivenciam em seu cotidiano. Também é uma forma de estimulá-los a entender as dificuldades enfrentadas por pessoas que precisam de produtos específicos para atender suas necessidades”, explica Pereira.

Os estudantes são divididos em equipes e o primeiro passo é fazer uma pesquisa com usuários. Eles conversam com consumidores, visitam os locais que utilizam o objeto proposto e veem de perto a realidade de quem precisa do produto. Essa etapa é importante para conhecer os prós e contras dos modelos avaliados e escolher o melhor tipo de conceito.

Em semestres passados, foram propostas ideias para os seguintes objetos: carro de coleta de recicláveis, cama hospitalar, plataforma de elevação para cadeirantes, amassador de garrafas pet e cadeira de rodas flutuante ou anfíbia – instrumento que permite aos cadeirantes tomarem banho de mar. Para divulgar estes trabalhos, os alunos apresentam as propostas finais em encontros abertos à comunidade.

Pereira destaca que as informações sobre os conceitos apresentados estão disponíveis para os interessados. Quem quiser contribuir com ideias, conhecer as propostas ou até mesmo desenvolver o conceito para alguma entidade, pode entrar em contato pelo telefone (47) 3275-8200 ou pelo e-mail marcio.pereira@catolicasc.org.br.

 

Equipe responsável pelo projeto faz pesquisa de usuário com a aluna Maria Antônia (no meio) para saber quais requisitos o mobiliário precisa atender

Equipe responsável pelo projeto faz pesquisa de usuário com a aluna Maria Antônia (no meio) para saber quais requisitos o mobiliário precisa atender